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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fim na Polonia

Com o fim do alistamento obrigatório, Exército da Polônia tenta se modernizar

País tenta transformar exército em força integrada, menor e mais moderna.
Mudança ocorre em momento tumultuado, com ressurgimento da Rússia.

No início deste mês, recrutas com a cabeça recentemente raspada esticavam timidamente seus pescoços tentando encontrar seus nomes nas fileiras de camas de metal da base aérea. Assim como poloneses de muitas gerações anteriores, eles haviam sido convocados a servir militarmente seu inseguro e freqüentemente conquistado país.

“Acho uma honra ser um soldado polonês ou tentar ser um soldado polonês,” disse um recruta, Krzysztof Lepkowski, 20 anos, que trabalhava como mecânico de caminhões antes da convocação.

Ele e os outros recém-chegados, arrastando-se em uniformes camuflados recebidos menos de uma hora antes, testando os primeiros passos em suas brilhantes botas pretas, serão os últimos do grupo.


Como parte do esforço para modernizar seu exército, o governo polonês deu oficialmente um fim ao alistamento compulsório, fazendo dessa classe de recrutas convocados a última após 90 anos de serviço militar nesta terra, que sentiu os tremores do pior que as guerras do século XX poderia oferecer.

A decisão chegou em um momento difícil. A incursão da Rússia no território da Geórgia em agosto despertou medos reais, pegando políticos e cidadãos despreparados. A tentativa da Polônia de transformar seu exército em uma força integrada menor e mais moderna está ocorrendo em uma época tumultuada, com seus soldados deixando o Iraque e expandindo a presença no Afeganistão.

Analistas afirmam não haver fundos ou homens suficientes sem o alistamento obrigatório, enquanto a Polônia vem tentando, basicamente, fazer tudo ao mesmo tempo. Apoiadores da decisão a consideram um passo tardio para se equiparar à qualidade das forças militares dos principais aliados do país na Otan na Europa Ocidental e por todo o Atlântico. Os críticos a chamaram de uma ação apressada e cara durante uma crise econômica, um produto mais da política do que de um legítimo planejamento, e uma prioridade mais baixa do que novos equipamentos – estes, sim, extremamente necessários.

Com uma história onde a Polônia foi conquistada pela Rússia e pela Alemanha e por vezes até desapareceu do mapa, os poloneses se preocupam de forma mais penetrante que as pessoas de outros países, especialmente os europeus, sobre questões de defesa nacional. A luta pela independência, dar a vida e os membros pelo país, é parte integrante da narrativa nacional.

E, com uma Rússia novamente confiante fazendo ameaças, a Polônia quer desesperadamente garantias de segurança e tranqüilidade. Ao mesmo tempo, os líderes da Polônia parecem ter percebido que a segurança do país não é resultado do maior exército possível, mas do reforço às organizações multilaterais que os ligaram intimamente ao restante da Europa e providenciaram poderosos aliados, particularmente os Estados Unidos.

O Ministério da Defesa estima que a profissionalização rapidamente executada custará 1,4 bilhão de zloty (cerca de US$ 460 milhões) em 2009 e 2,5 bilhões (ou US$ 820 milhões) em 2010.

“Não posso ser muito otimista a respeito da aceleração súbita recentemente proposta para este programa”, escreveu Wladyslaw Stasiak, chefe da Agência de Segurança Nacional, que aconselha o presidente Lech Kaczynski em assuntos militares. “Isso coincide com a falta de um plano de ação completo, de uma avaliação sólida, da indicação de fontes de financiamento, assim como de um sistema de motivação para voluntários dispostos a vestir uniformes.”


Foto: Piotr Malecki/The New York Times
O voluntário Kamil Wozniak tem seu cabelo raspado em Radom. (Foto: Piotr Malecki/The New York Times)

A decisão tem sido um ponto de discórdia entre Kaczynski e o primeiro-ministro Donald Tusk, que atraiu jovens eleitores nas eleições do parlamento, no ano passado, em parte por prometer o fim do alistamento obrigatório.

Até agora, a Polônia recebeu elogios de especialistas militares ocidentais por seus esforços em modernizar suas forças, e é conhecida como ávida participante dos projetos de defesa da União Européia e de missões e programas da Otan. No entanto, especialistas locais argumentam que o país se esticou demais com ações fora do país, incluindo cerca de 1.600 tropas no Afeganistão, de 1.200 em setembro, e cinco anos com uma função de apoio no Iraque, que foi recentemente finalizado.

A marinha polonesa precisa urgentemente ser atualizada. O ministro da defesa, Bogdan Klich, também classificou como prioridade a modernização das defesas aéreas do país, assim como conseguir novos helicópteros.

“Todos esses programas não podem ser executados ao mesmo tempo”, disse Andrzej Karkoszka, especialista em defesa da PricewaterhouseCoopers em Varsóvia e antigo vice-ministro de políticas de defesa no Ministério de Defesa polonês. “Eles precisam ser planejados em fases, um após o outro, de acordo com a urgência e a disponibilidade de recursos.”

O maior teste para a nova força militar profissional será preencher suas fileiras, atraindo voluntários e retendo os recrutas atuais, agora que o governo terá de se esforçar para atrair candidatos em vez de simplesmente convocá-los. O Ministério da Defesa começou, em agosto, uma campanha publicitária de outdoors e comerciais de TV com cenas de helicópteros e soldados fazendo rapel.


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Artistas cobrem prédio com retrato gigante de Lech Walesa na Polônia

“Honra, desafio, irmandade”, entoa o narrador. “Viva com paixão. Junte-se aos melhores.”

Para a Polônia, mudar para um exército profissional é apenas um entre muitos passos de um processo de muitos anos para restaurar seu poderio – saindo de uma força com 450 mil membros que mira o ocidente, como parte do Pacto de Varsóvia liderado pelos russos, a uma força militar enxuta e bem equipada, que pode agir rapidamente nos locais problemáticos do mundo em missões multinacionais.

Até o final deste ano os militares terão reduzido seu contingente a 130 mil homens, um número que, segundo se espera, pode chegar à meta de 120 mil após a profissionalização. Mas com a saída de 38 mil convocados no próximo ano, ainda ficará uma significativa diferença – sendo necessários cerca de 20 mil soldados profissionais para compensá-la.

O recruta profissional comum recebe 2.200 zloty por mês, cerca de US$ 720, ganho que aumentará para cerca de US$ 820 no início do novo ano. Há uma proposta para aumentar os salários de 13% a 26%. Mulheres não eram convocadas, e apenas 1.500 servem no exército – um número que deve aumentar conforme elas forem atraídas às fileiras profissionais.

Os pais de Jakub Padala o levaram de carro desde sua casa ao sul de Lublin, em Krasnik. Padala, de 21 anos, estava desempregado e vivia com seus pais quando foi convocado. Questionado por que escolheu servir quando amigos tinham se esquivado, ele disse: “Disciplina. É a escola da vida.” Ele espera receber treinamento e experiência com altas tecnologias, acreditando encontrar trabalho mais facilmente após servir no o exército.

Os recrutas pareciam calmos e confiantes, mas suas palmas suadas entregavam seu nervosismo com um simples aperto de mãos. Durante 21 dias eles serão submetidos a treinamentos físicos e de combate, praticarão a guerra química e aprenderão as regras e regulamentos militares. Em 30 de dezembro eles farão seu juramento e, em 9 de janeiro, serão dispersados para unidades por todo o país. Quando os nove meses obrigatórios forem concluídos, os poloneses – prontos ou não – terão um exército profissional.

“Eu viria simplesmente para trabalhar aqui”, disse Radek Kedziora, 24, que tinha um irmão no exército e trabalhava como técnico médico de emergência em uma ambulância quando foi convocado.

“Quero ficar, e isso depende de eles me quererem ou não”, afirmou o soldado. Esse sentimento soa como música aos ouvidos dos funcionários do Ministério de Defesa – e uma canção que eles precisam ouvir muitas vezes se quiserem alcançar seus objetivos.

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